terça-feira, 31 de março de 2015

À última do ônibus

Chegou a moça que estudava
Chegou o rapaz que namorava
Mas com outra já estava
Chegou o senhor que trabalhava
Chegou o rapaz que não sabia onde andava
Chegou a flor que se descabelava
E dai eu entrei
Depois de um beijo-fogo
Ouvi música
Ouvi gente 
Ouvi grito
Ouvi despedida 
Sentei
Imaginei
Li anúncio 
Li livro 
Li mensagem de texto antiga
Li os olhos que passavam pela porta dos fundos 
Num domingo escuro 
A moça dos estudos foi esvaída 
Precisava de informação 
Meu Deus até no domingo?
Enfim
O rapaz que namorava 
Disse adeus ao segundo amor
Muitos pensam "que bonito"
Muitos pensam "que horror"
Sei lá dessas 'minas' 
A vida não é minha
O senhor que trabalhava adormeceu ao meu lado
Acordou no susto 
Bem no ponto de partida, justo 
O rapaz que não sabia 
Soube na marra
Bem-vindo à Sampa, camarada
A flor que se descabelava 
Desceu com prantos 
Com desencantos 
Calma moça, ainda é domingo. 
Eu fiquei 
Queria eu morar perto da partida
Queria não 
Se morasse não teria tempo pra reflexão 
Olhei dos lados
Era a última 
O último cisco do dente de leão 
O último sopro de ilusão, imaginação, verão 
Olhei dos lados
Tinha vidro
Banco de couro 
E vento frio 
Mesmo descendo em casa
Me senti meio perdida
Quis ao menos 
Enquanto última 
Cantar ao motorista 
Essa canção da despedida.