quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Eu consegui escrever, mas escrevi marejada

Da doença, do meu vício
fiz minha profissão
da carência, dependência, da visualização
da necessidade alheia cresci no meu ofício
só rezo pra que eu não leve ninguém pro hospício

Do bando de cara que me encara
construiram a guerra, fiz a minha batalha

Do sangue sedento por atenção
hoje eu comungo com a minha solidão
dançando com pés descalços pelo chão
me visto de mim mesma e corro contra o não

não falo pelas costas, grito, não sussurro
mais cuzão o tapa nas costas do que na cara o murro
falador passa mal, às vezes não é verdade
os ternos pegam fogo no centro da cidade

Desculpa quem tá lendo e trampa comigo

que vive minha realidade, talvez meu amigo

que pega o metrô e não prega o mal
Assume ser humano, não um cargo gerencial
porque aqui a empatia nunca ninguém viu
gravata, sapato, bolsa, maquiagem e fuzil
se jesus já voltou, não tá no escritório
Talvez chegue um e-mail sobre o meu velório
a foto de ação social esconde a vaidade
que o diabo veste prada, já é realidade